Modelo que une fluxos de economia facilita compreensão do mundo em rede
Com o mundo cada vez mais conectado e se desenvolvendo mais rápido, a futurista Lala Deheinzelin constatou há quase dez anos que era necessário pensar em ferramentas para compreender melhor a sociedade e planejar o futuro. Pioneira em Economia Criativa e Colaborativa, ela desenvolveu um modelo econômico que possibilita enxergar a economia de uma maneira mais ampla, unindo aspectos tangíveis e intangíveis. A chamada Fluxonomia 4D combina quatro tipos de economia em fluxo: economia criativa, economia compartilhada, economia colaborativa e economia multivalor.
Fluxonomia 4D une aspectos tangíveis e intangíveis da economia |
Em conversa com o USP Cidade Globais, realizada no IEA, no dia 27 de julho, Lala contou que acredita que a humanidade está vivendo sua maior transição até agora, referente à forma como as coisas estão conectadas. “Estar em rede nos colocou em outra dimensão, fora do tempo e espaço. O mundo em rede é desmaterializado e para enxergarmos precisamos de novas ‘lentes, bússolas e mapas”, afirma. Segundo ela, no mundo em rede as coisas acontecem de maneira exponencial e a grande questão é como lidar com esse crescimento exponencial. “Se um projeto de gestão for feito para durar cinco anos, ele vai ficar obsoleto no meio do caminho, as coisas mudam rápido”, complementa.
Foi buscando essa compreensão que Lala chegou à Fluxonomia 4D, na qual um fluxo de economia ativa exponencialmente a outra. No modelo, a economia criativa gera valor em patrimônios intangíveis, como cultura e conhecimento, e os combina com economia compartilhada e seus patrimônios tangíveis – os espaços, equipamentos e materiais. O resultado dessa união é a economia colaborativa, um fluxo de iniciativas que gera valores não apenas monetários, mas também culturais, ambientais e sociais, ou seja, a economia multivalor, que é exatamente um fluxo de recursos e resultados de toda natureza possível.
O termo “4D” vem dos quatro eixos que representam cultura e social (intangíveis) e ambiental e financeiro (tangíveis). Cultura seria a semente, é o que está dentro do indivíduo; a dimensão ambiental (terreno) é a dimensão do suporte, da infraestrutura, enquanto a social é a dimensão de tudo que se faz junto, no sentido de sociedade, coletivo. A economia abrange todos estes aspectos.
Lala Deheinzelin: "Empreendimentos bem sucedidos dedicam 40% a 50% do tempo em processos de comunicação" |
Um exemplo citado por ela é a Wikipedia, na qual o eixo cultural é o conhecimento de cada um, representando a economia criativa. O eixo ambiental é o computador usado para enviar a informação para a plataforma, o que corresponde à economia compartilhada. Já a economia colaborativa é o eixo social, ou seja, a dimensão de tudo que se faz em conjunto. O eixo financeiro é tudo de valor – não apenas monetário – gerado pela plataforma.
Entre as vantagens da Fluxonomia estão a capacidade de compartilhar infraestrutura e a possibilidade de aproveitar as tecnologias móveis. Por outro lado, é necessário enxergar onde estão os recursos 4D e as ferramentas para ativá-los. No caso da Wikipedia, por exemplo, o conhecimento já existia, mas sem a ferramenta wiki nada seria possível. Outro ponto importante para o funcionamento do Fluxo é a comunicação: “Empreendimentos bem sucedidos dedicam 40% a 50% do tempo em processos de comunicação”, afirma Lala.
O modelo também pretende viabilizar futuros através das novas economias ao pensar na ampliação do campo de futuros possíveis e concebíveis. No entanto, Lala ressalta que no novo sistema em rede ficou ainda mais difícil prever como as coisas acontecerão. Para ilustrar, a futurista compara o futuro ao ato de arremessar uma pedra ou arremessar uma ave. Ao lançar uma pedra, já se sabe mais ou menos onde ela vai cair, porém, ao lançar um pássaro, não se sabe o que ele irá fazer. A metáfora representa a tentativa de previsões em mundo antes e depois das conexões em rede.
Foto: Leonor Calasans / IEA-USP – Arte: Divulgação